Nada me segura
- Marcelo Taveira
- 26 de out. de 2016
- 2 min de leitura
Hoje eu acordei com aquela incrível sensação. Com o olho remelado, cabelo bagunçado e a maquiagem da noite passada toda borrada, mas a sensação era a melhor possível.
Olhei no espelho, e pensei: Eu sou maravilhosa.
Essa minha autoconfiança não tem ligação com alguma situação específica na noite de ontem, apesar de ter sido uma festa e tanto. Acordei assim, simplesmente porque comecei a me ver com outros olhos. Olhos de quem não tem vergonha de ser quem eu sou, orgulho do caráter que carrego e da força emocional que ostento.
Essa incrível noite me fez refletir coisas em que não havia pensado.
Eu era tão exigente comigo mesma, que deixava de ver minhas qualidades, e pensava apenas no quão linda aquele vestido iria me deixar, o quanto aquela sandália iria causar inveja nas mulheres da festa, o quanto a maquiagem e o brinco chamariam toda a atenção da festa. Mas, sempre, tudo o que recebia eram elogios forçados, sorrisos amarelos e conversas sem conteúdo.
Ontem, pela primeira vez eu resolvi vestir meu melhor sorriso. Aquele leve, despretensioso. Solto. Sem motivo nem objetivo. Fiz uma maquiagem e coloquei brincos discretos, um vestido nude com pouco decote, nada muito curto também. Mas claro, aquele salto quinze não me abandonou. Mulher que se preza, está sempre em cima do salto.
E como mágica, toda aquela pressão que colocava em mim mesma para ser a mais linda da festa, simplesmente desapareceu. Minhas fotos no Instagram nunca tiveram tantas curtidas e comentários. Chegava a ser engraçado, mas aqueles homens de conversa sem conteúdo, sequer me puxavam para conversar. Os que vinham, usavam palavras rebuscadas, argumentos elegantes, tudo naquela tentativa desesperada de me beijar. Mas, sei lá, sabe quando você ouve tantas coisas e simplesmente não escuta? Meu sorriso era minha blindagem. Não queria ninguém. Era a primeira noite em que eu desejava a mim mesma. Apenas a minha felicidade importava. E eu comecei a dançar. Dancei até fazer bolha nos pés, e meu sorriso radiante não me abandonou.
E ao deitar na cama ontem à noite, eu tive a certeza de que a felicidade não estava nas coisas que ouvia, nos elogios que me eram ditos. A felicidade estava em mim. E agora, nada me segura.

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