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Príncipes não existem

  • Anônimo
  • 11 de ago. de 2017
  • 4 min de leitura

Tudo começou em certo dia, em uma boate, quando nos cruzamos no banheiro, já nos conhecíamos e então nos cumprimentamos.

Eu tinha saído de casa aquele dia para dançar até o chão, comemorar minha decisão de seguir carreira solo dali pra frente. Estávamos dançando forró e num susto, ele me deu um beijo. Ah que beijo, que química, que boca, que lábios, que abraço, que cheiro gostoso, que sintonia!

Parecia que eu já sabia todos os contornos daqueles lábios e sabia exatamente o que fazer. Ficamos sem fôlego, ambos confessaram a emoção e frenesi daquele momento, eu loira, ele negro, igual café com leite, os dois de roupa vermelha, eu num vestido colado, que eu me sentia bem e ele numa polo vermelha. Não havia quem não nos olhasse, um amigo em comum nos interrompeu e brincou: “Respirem!”. De fato foi um beijo, uma loucura, uma delícia.

Eu já o conhecia de vista, há aproximadamente um ano, nos esbarramos em um bar, meu sócio nos apresentou. Eu achei ele um gato, mas não me pareceu confiável, achei muita lábia e pouco resultado, aí ele pediu meu telefone, passei o número errado, praxe da minha pessoa quando estou desinteressada. Mas a partir daí, nos seguíamos via Instagram.

Até que em março, nos entrelaçamos. Foram três meses de um misto de loucura, desejo, medos, angústias, frenesi, sexo, cheiro, fugidas do escritório na hora do almoço. Loucuras como fazer amor em pleno sábado num dos bares mais lotados da cidade, no fraldário, e poxa, foi incrível.

Difícil explicar a química que rolava entre a gente, saía faísca, não só um tesão que há muito não sentia por alguém, mas uma admiração, um diálogo fácil, uma conversa boba e risadas constantes. Parecia ser um pessoa que tinha vindo pra ficar, conheci os pais, a filha, ah, a filha! Me encanta até hoje pela doçura e esperteza. Que pretinha linda e esperta, como me apeguei tão rápido depois de uma tarde juntas no clube. A admiração foi recíproca, o nosso santo bateu, minha vontade é pegar, abraçar, morder, dar beijo, fazer tranças no cabelo dela e falar do Frozen, da Peppa e de todos os desenhos mais que ela quiser.

Eu literalmente me apaixonei, me apeguei, talvez demais para o que o que ele realmente era, para o que ele poderia me oferecer. Notei que, embora se fizesse presente, começou a sumir finais de semana, saía sozinho. Havíamos conversado a respeito de reciprocidade uma vez, mas isso pareceu assustar ele. Eu estava boba, disposta a ignorar tudo que fosse ruim para ter ele ao meu lado, mesmo passando por angústias desnecessárias. Eu sou oitenta, eu sou intensa, eu sou parceira, eu quero presença, eu quero marcar presença, não nasci pra ser contatinho, nasci para almoçar na casa da sogra aos domingos e discutir moda, política, direitos, atualidades, o tema de uma aula do MBA que eu faço.

Eu tenho brilho, eu sou uma companhia formidável e sei disso. Não é atoa que todos os amigos dele me amaram, até as amigas mais ciumentas e antigas, todos os amigos fizeram questão de sentar em um mesa de boteco juntos e ali rimos por horas, entre bananinhas e fofocas. Mas tudo foi perdendo o sentido, fui sofrendo mais que gostando, fui notando que, apesar de eu amar loucamente, porque eu já amava, já fazia planos juntos, queria viajar junto, conhecer o mundo em altas viagens, mas ele preferiu estar só.

O estopim ocorreu quando minha avó faleceu. Eu o avisei e ele simplesmente não apareceu, não ligou, não deu notícias. Achei muito desprezo, muita falta de consideração, eu decidi a partir dali, me afastar. Nos encotramos algumas vezes, tivemos outras DR’S e nunca mais foi a mesma coisa entre nós. Eu errei, ele errou. Ultrapassei limites, ele me esnobou e tudo desandou. Sei que mesmo diante disso tudo, não há um dia em que ele não esteja presente em meus pensamentos, seja pela lembrança, seja pelo comentário de um amigo em comum.

Estou na sofrência, confesso. Estou tentando ficar bem, focar em mim, usar a razão para me dar conta a todo o momento que as coisas só perduram se houver reciprocidade, sintonia e se aquela pessoa vier para somar na sua vida. Canso de me falar todos os dias e já ouvi isso de outras tantas pessoas, inclusive de amigos, homens que o conheceram, que eu definitivamente era muito mulher pra ele.

Razão e emoção disputam o mesmo lugar, óbvio, daí a tristeza constante em lidar com a rejeição. Meu lema diário é ser forte. Estou tentando, cada dia que passa e apesar das lembranças, é um dia vencido. Um dia em que me cuidei, trabalhei e que estou superando essa decepção. Boba da gente que fica esperando uma ligação do além, dessa pessoa, para nos reencontrar, começar tudo de novo.

Por enquanto, estou superando e tenho a certeza de que mulheres fodas, estudadas, esforçadas, militantes em seus trabalhos e bonitas, assustam os homens. Ele me confessou que sentia medo de mim.

Preciso de alguém que me ajude a superar os medos e não se amedronte comigo. Um dia após o outro! Não acredito em príncipes, acredito em sintonia e em reciprocidade!


 
 
 

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